Crítica: Detona Ralph

11/12/2012 15:02

Crítica: Detona Ralph

Gamers, a infância de vocês voltou.

A Disney, depois de tanto tempo com a Pixar, repetiu uma fórmula valiosa nesta produção solo, que é uma lição para muitos: é possível fazer animações excelentes ao mesmo tempo que divertimos crianças e adultos. É o caso de tantas produções de sucesso como “Toy Story 3” (2010), que conseguem conversar com as crianças, além das “crianças interiores” e até mesmo do lado “crescido” dos adultos.

Em um mundo que os personagens dos videogames tem vida própria dentro dos aparelhos, o vilão Detona Ralph (“Wreck-it Ralph”, no original voz de John C. Reilly) está cansado de seu papel. Depois de 30 anos sendo um vilão no game do herói Conserta-Felix Jr. (“Fix-It Felix Jr.”, Jack McBrayer), ele quer o reconhecimento que só o “mocinho” parece ganhar. Ralph passa a viajar por outros games buscando se tornar um herói para ter o reconhecimento que Felix tem.

Sem Ralph, o game de Felix corre o risco de ser desligado, então Felix se junta à Coronel Calhoun (Jane Lynch), do game espacial Missão de Herói para localizá-lo. Ralph conhece no game Corrida Doce a pequena Vanellope (Sarah Silverman), uma “bug” de sistema odiada pelas outras corredoras de seu game, assim como pelo bizarro monarca que domina o game, o Rei Doce (Alan Tudyk). Conforme ajuda a garota, Ralph aprende que cumprir o papel de vilão não necessariamente o faz um cara ruim, e que há muito mais em um herói do que uma medalha.

A idéia por trás de “Detona Ralph” (“Wreck-It Ralph”) é uma inspiração que muitos de nós já tivemos, seja na infância ou na vida adulta: a chance de misturarmos nossos personagens favoritos de games, ou vê-los fora de suas aventuras. O que Sonic faz fora do “horário de trabalho”? Aparentemente, ele é um garoto-propaganda na estação central que conecta todos os games.

No mundo de Ralph, cada um dos personagens de um game tem um dia-a-dia. O próprio Ralph divide seu tempo entre seu game e visitas ao bar Tapper (do game oitentista de mesmo nome), onde frequentadores como Ryu, do game “Street Fighter”, podem ser vistos. Aliás, é nessa vida social que Ralph mais sofre, pois todos ainda o consideram um cara indesejável, mesmo quando não está ocupado destruindo um pacato prédio de apartamentos (o papel de Felix no game, como o nome sugere, é consertar tudo).

A Disney não poupou esforços em parcerias para garantir muitas caras características dos jogos eletrônicos, o que no final das contas gera resultados incríveis. Começando pelo encontro de vilões que Ralph passa a frequentar em busca de ajuda, vemos Bowser (de “Super Mario Bros.”), Zangief e M. Bison (de “Street Fighter”), Kano (de “Mortal Kombat”), um dos fantasmas inimigos de “Pac-Man”, entre muitos outros. Em outros locais públicos, também não faltam caras famosas, especialmente de games Retrô. Os personagens de “Q*bert”, por exemplo, ganham até uma cena de destaque, com direito a um fantástico diálogo com Felix.

Mais do que a homenagem aos clássicos, a proposta da animação é ser uma homenagem ao estilo. Temos como parte do enredo mecânicas clássicas de videogame, com direito a “bugs”, “vidas”, “game over” e pontuações. Graficamente, o estilo dita até o movimento dos personagens, como os pulos cômicos de Felix, ou o movimento robótico dos habitantes do prédio atacado diariamente por Ralph. Os mais mais velhos vão entender melhor a maior parte das referências, mas a criançada também consegue se divertir muito.

Seguindo essa idéia de homenagem, temos três estilos de games brilhando como os principais: “Conserta-Felix Jr.”, uma óbvia homenagem a “Donkey Kong”; “Missão de Herói”, referência a games de tiro em primeira pessoa como “Halo”, “Gears of War” ou “Mass Effect”; e “Corrida Doce”, um game de corrida em cenários fantasiosos, como “Mario Kart”. Trabalhar com games criados só para o enredo foi uma decisão inteligente, que deu liberdade para a Disney fazer muito, sem depender de histórias famosas.

O “estilo Disney”, aliás, está presente em uma história que fala muito sobre amizade, coragem e dever, tudo em um enredo que caminha por rotas muito inesperadas, mas cheia de surpresas. O ritmo é acelerado e garante ação e risos a toda hora, com direito a pitadas de momentos emocionais. Ralph conquista logo a atenção e os corações de todos, que se compadecem de vê-lo ser isolado e forçado a morar no lixão. Já o trio de co-protagonistas, apesar de à primeira vista parecerem pedras no sapato de Ralph, logo dividem os holofotes e conseguem garantir tanta diversão quanto o imenso herói-vilão.

A dublagem em português ganhou nomes conhecidos. Tiago Abravanel fez a voz de Ralph, acompanhado de Rafael Cortez como Felix e a apresentadora MariMoon como Vanellope. O grupo dá um show, com destaque para Cortez, que adicionou um ritmo e uma pronúncia “certinha” que combina perfeitamente com o jeito do faz-tudo “bom moço”. MariMoon tropeça às vezes, com algumas falas que ficaram forçadas na corredora baixinha, mas consegue manter a fofura digna da original.

Adicione uma trilha sonora emocionante, contando com várias canções originais (várias com referências sonoras à Era de Ouro dos games), e temos diversão de sobra. Pode soar como um sacrilégio para muitos, mas mesmo sem a Pixar a Disney fez um ótimo trabalho, e soube usar o 3D bem, ainda que ele não seja realmente necessário para a experiência.

Ah, vale lembrar: antes do filme, a Disney também estréia seu curta “O Avião de Papel” (“Paperman”), que com uma técnica que mistura desenho e computação gráfica, completamente em preto e branco (com exceção de poucos detalhes bem específicos) conta uma belíssima história de romance e comédia que poderia ganhar um artigo inteiro só para ele. Assim que tiver a oportunidade, largue o que estiver fazendo e vá assistir!

 

 

https://blogs.pop.com.br/cinema/critica-detona-ralph/

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