Uma coisa óbvia a respeito da lista do post de hoje que precisa ser dita é o seguinte: ela é extremamente pessoal.
Cenas de sonho são um recurso relativamente comum no cinema e a pretensão de definir as melhores delas é algo que, apesar do título do post, eu definitivamente não tenho. (afinal, se eu for realmente sincera, esse post foi uma ideia que eu tive do nada, depois de ter um sonho esquisito em que um rei-general velocirraptor me pedia em casamento).
Mas, enfim, continuando: sequências de sonho no cinema.
Se usadas de uma modo preguiçoso, as sequências de sonho podem ser um modo de expor de maneira fácil ansiedades, medos, emoções de algum dos personagens ou uma saída simples para uma situação complicada. Sabem, tipo aquele clichê de “aí o protagonista acorda e descobre que toda a situação insolucionável pela qual ele passou foi um sonho. Boom! Problemas do filme resolvidos”.
Agora, se bem usadas, as sequências de sonho podem ajudar a desenvolver o personagem de maneira interessante, além de poderem acrescentar alguns momentos deliciosos de surrealismo para a história.
Em homenagem a isso, aqui vão cinco das que mais me marcaram, como fã de filmes:
“Quando fala o Coração” (1945)
Neste thriller psicológico de Alfred Hitchcock, Gregory Peck sofre de amnésia precisa trabalhar com uma analista – vivida por Ingrid Bergman – para reconstruir os eventos de seu passado.
Esta sequência, em que ele descreve um de seus sonhos, foi montada por ninguém menos queSalvador Dalí, por isso as milhões de imagens surrealistas justapostas em camadas, além de uma música que ajuda contribui para sensação de desorientação e absurdo e – o melhor de tudo – o fato de que o clipe consegue passar exatamente aquela coisa que sonhos têm em que as tudo parece perfeitamente, mas, quando você lembra dos detalhes, percebe o quanto é estranho.
Tudo que acontece no sonho, em descrição, é normal: a ida do personagem ao barbeiro, a parte em que eles jogam “21”, mas todos os detalhes são esquisitos – da moça que aparece beijando todo mundo às cartas gigantes.
“A Origem” (2010)
O filme de Christopher Nolan foi um dos mais comentados de 2010, e com bom motivo: à primeira vista é simplesmente mais um filme de roubo de objetos, só que ambientado na cabeça das pessoas.
No entanto, o filme já gerou inúmeras interpretações e, apesar de os sonhos retratados serem um pouco mais próximos da realidade normal do que muitos filmes desta lista, ninguém nega a beleza das paisagens arquitetônicas e da física surrealista dos mundos sonhados no longa.
É como a personagem de Ellen Page resume bem, no vídeo acima: “é de pensar que a estranheza dos sonhos estaria mais na parte visual, mas é mais a sensação da coisa”.
“Dublê de Anjo” (2006)
Se você ainda não assistiu a este filme do diretor Tarsem Singh, por favor, não se deixe enganar pela tradução ridícula do título (“The Fall” – “A Queda” – no orginal).
O filme inteiro é permeado por imagens fantásticas, fantasiosas e belíssimas, mas o clipe acima é a única sequência de sonhos propriamente dita da história.
O que é maravilhoso em “Dublê de Anjo” é a mistura de imagens fantasiosas e de uma narrativas fabulosas, com uma história mais real e sombria, ao retratar a amizade entre homem em um hospital que faz amizade com uma garotinha e conta histórias para ela… Porque ele precisa ganhar sua confiança para convencê-la a, sem saber, ajuda-lo a conseguir pílulas para o seu suicídio.
O fato de que 90% das imagens do filme são bonitas assim:
Fazem com que este assustador clipe, de um sonho que a garotinha tem enquanto se recupera no hospital, ilustre ainda melhor esse contraste entre o belo e fantasioso e o sombrio.
“8 ½” (1963)
Este longa do diretor italiano Federico Fellini, sobre as dificuldades de um diretor em criar seu nono e mais marcante filme, é repleto de sequências de sonho cheias de imagens evocativas e simbólicas.
Foi difícil escolher, mas acho que a do clipe acima, que mostra o desespero do protagonista, tentando escapar de um carro que aos poucos se enche de fumaça, é uma das mais vívidas e viscerais do filme, além de justapor o desespero do protagonista à atitude desinteressada dos que o rodeiam.
Além disso, é uma daquelas sequências de sonho que, como eu falei que é o caso das ótimas cenas de sonho, mostra perfeitamente o estado de espírito do personagem e conversa com a temática do filme, sobre um artista em conflito com a própria criatividade.
“O Grande Lebowski” (1998)
As imagens sexuais, Jeffrey Bridges dançando, Saddam Hussein distribuindo sapatos de boliche, Julianne Moore em trajes vikings, dançarinas com roupas temáticas de boliche… Com tantas coisas certas e um senso de humor tão profundamente excêntrico, em uma única sequência de sonho, é difícil de entender por que “O Grande Lebowski” é um filme tão adorado por tantos?
“Beleza Americana” (1999)
O sonho em que o personagem de Kevin Spacey deseja a melhor amiga de sua filha em “Beleza Americana” pode não ser uma das surreais ou criativas que existem por aí, mas é uma das mais icônicas. Afinal, quantas vezes já não vimos essa cena das pétalas de rosas sendo parodiada?
O sonho é a ilustração perfeita da paixão que o personagem nutre por uma ideia, um escapismo fantasioso do tédio de uma vida que ele mesmo escolheu.